Quando vemos que algo nos é oferecido gratuitamente, não significa que não houve custo naquilo, a questão é: para você, não houve custo algum. Mas alguém pagou o preço.
Porque então, quando nos deparamos com a graça salvadora de Cristo não a vemos como algo de alto preço? Ela não tem custo porque sua fatura foi paga de uma vez por todas. Jesus pagou no madeiro. Baratear a graça é diminuir o preço que foi pago por ela e isso inclui o sofrimento de Cristo.
É nesse discurso que o mundo encontra abrigo para os seus pecados, os falsos cristãos espaço para a sua libertinagem e os pregadores, templos cheios. Não há justificação para o pecador, mas justificativa para o seu pecado. Tudo continua como está, conforme traz Bonhoeffer no livro “Discipulado”: “O mundo continua mundo, e nós continuamos pecadores.”
O medo não está em negar a encarnação da Palavra de Deus, o Cristo vivo, mas em ser considerado um herege fanático. Onde está a verdadeira e preciosa graça que transforma corações?
A graça barata é aquela que outorgamos a nós mesmos, que nos permite o amor ao mundo e “segurança” numa falsa salvação. Pregar uma graça barata é pregar uma graça sem Cristo, não há a menor possibilidade de uma vida salva sem arrependimento, confissão de pecados e discipulado.
Quem reconhece a preciosidade dessa graça, de tudo abre mão, vende seu campo e tudo o que tem para compra-la ou corta seus dedos para não tropeçar enquanto vive por ela. Larga suas redes ou seu posto de cobrador de impostos, só para poder viver sendo discipulado.
Se tal graça custou a vida do Filho de Deus, o que então custaria de nós? Qualquer preço que pagamos é baixo quando comparado com o que Ele pagou. Ela custa a nossa vida porque nela encontramos a vida verdadeira. Nela nos tornamos templo do Deus Vivo.
É essa graça que faz de um discípulo infiel diante do confronto, um mártir que se considera indigno de ser morto como Seu Cristo. Onde está essa graça?
Tantos números e zeros adicionando-se ao mundo cristão, mas tão vazios de discípulos. A igreja tem legitimado a vida mundana, onde a santificação é somente para a vida monástica. Quando na verdade, o discipulado é um mandamento para todo cristão. Ao contrário do que se pensa, a graça não dispensa o discipulado, ela o torna obrigatório.
A graça que resulta de um coração arrependido e devoto ao chamado para o discipulado é a preciosa. O escolhido é justificado e anseia pelo discipulado de Cristo, e por isso dá a sua vida. Isso não o exclui de pecar, ele ainda é um homem de carne e pecador, reconhece-se como tal e isso é o que o motiva a chegar diante do único que pode perdoar pecados e justificar o pecador: Cristo.
Esse é o consolo do discípulo.
No mar de mentiras da graça barata, perdeu-se a essência da Igreja Primitiva e com ela a separação entre Igreja e mundo. É pavorosa a cristianização do mundo. É terrível como isso traz uma falsa força para a Igreja, quando, na verdade, faz com que seus membros percam a força para obedecer ao chamado do discipulado.
É a graça preciosa que nos capacita para obedecer. É ela que nos prova a misericórdia do Senhor.
Sob qual graça você tem vivido?
Referência:
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Mundo Cristão, 2016. 254 p.
Por Gabriela Simas